Mc Donald’s – A Saga

A fome bateu às 14h de uma tarde fria e nublada. A garoa fina e fria me impedia de ir a pé aos restaurantes próximos ao trabalho. Então, o delivery do Mc Donald’s me pareceu uma ótima solução. Poderia comer dentro do carro, com o ar quente ligado. Perfeito! Fui.

Na cabine da lanchonete, uma moça desanimada, encolhida, e que deveria estar torcendo para também contar com um sistema de ar quente anotou, ou computou, como queiram, meu pedido:

- Eu vou querer um nuggets de seis, um suco de limão médio e um iogurte com frutas vermelhas. - o pedido estranho era uma tentativa de fugir das habituais e monstruosas calorias existentes nos lanches do Mc.

- Deu R$ 14,50. Pode pagar no próximo guichê, por favor.

Segui com o carro, paguei com um vale-refeição, e me dirige a uma terceira cabine, para então, pegar meu pedido. Um moço franzino, com espinhas no rosto, parecido com aquele jovem interiorano que era seduzido pela personagem da Mel Lisboa, na série Presença de Anita, me entregou primeiro a bebida:

- Aqui está seu suco.

O copo era pequeno e continha um líquido escuro dentro.

- Moço, isso aqui é coca! – disse, ao devolver a bebida para o rapaz.

- Você quer outra? – perguntou confuso.

- É que eu pedi suco e isso é coca-cola.

- Ah! Espere só um momento – falou o atendente, enquanto me dava o saquinho com o restante do pedido.

Abri a embalagem para dar aquela conferida de praxe e lá estava uma batatinha pequena. Já deixando uma certa rispidez aparecer na minha voz, falei:

- Querido, está tudo errado! Pedi nuggets de seis, suco de limão médio e iogurte.

- Ué....Só mais um momento, por favor.

Eis que surge uma outra atendente, que deve ter achado que eu fui vítima de uma lobotomia e, em uma distância de duas cabines, havia esquecido o que queria comer.

- A senhora não pediu Mc Lanche Feliz?

- Não! Pedi nuggets de seis, suco de limão médio e iogurte – aqui a rispidez já era mais evidente.

Enquanto eu congelava no carro, já que o ar quente não funciona com o veículo desligado, e a janela estava aberta na esperança de que por ela entrasse o meu almoço, os atendentes conversavam entre si. Enfim, descobriram que o cover do rapaz interiorano apaixonado pela Anita entregou, por engano, meu pedido ao cara do carro anterior.

- Mas o homem nem reclamou! – retrucou com surpresa, como fosse de fato um jovem de uma pacata cidade.

- Claro! Você deu coisa de graça para ele! Acha que ia reclamar? – soltou um funcionário moreno, claramente habituado ao olho por olho, dente por dente da cidade grande.

Após o choque de realidade, o pseudo jovem interiorano me olhou e disse, em um tom de quem conta uma fofoca inacreditável:

- Um homem passou de carro aqui e pegou seu lanche!

Mesmo com fome, com frio, e irritada com a confusão, o riso quase me escapou! Já imaginei que quando chegasse ao trabalho teria que escrever um destes e-mails de alerta sobre o mais novo golpe da praça.

“Gente, atenção, isso é verdade! Aconteceu comigo, hoje, no delivery do MC Donald’s do Carrefour de São Bernardo. O mais novo golpe dos bandidos é roubar comida, na boca da cabine da lanchonete.

Enquanto você aguarda dentro do carro, eles passam na sua frente e roubam o lanche que deveria ser seu. E o pior é que você já pagou!

Os criminosos não se intimidam com os funcionários, seguranças, e nem com a cabeleira vermelha do Ronald Mc Donald. Isso ocorreu comigo em plena luz do dia! Na hora do almoço, onde há mais movimento.

Repassem essa mensagem para as pessoas que gostam. É verdade! Se cuidem e fiquem com Deus!”

Segurei a risada e fui instruída pelo pacato atendente a aguardar na área de espera. Cinco congelantes minutos depois, recebo, enfim, meu pedido.

Passada a confusão, comi seis nuggets, um iogurte com frutas vermelhas e suco de limão, com o ar quente ligado. Isso tudo dentro de uma hora de almoço. Ufa!